Um
filme torto, sujo, cinzento e estranho, mas que nem por isso deixa de ser belo
de um jeito sincero e espontâneo, atento para a beleza das pequenas coisas da
vida. Sem esforço, o filme é uma declaração de auto-afirmação a uma vertente do
cinema independente que abraça o sujo, o torto, o deslocado, o entediante, enfim,
um lado da humanidade negligenciado pela sociedade ou pela vertente mainstream
das artes mais populares (assim como o húngaro Béla Tarr). A cada pequeno
episódio anunciado pela tela preta, um momento precioso que estabelece os
personagens no mundo (nem sempre com ações propriamente ditas) com uma
naturalidade e fragilidade contagiantes, o que se estende tanto aos diálogos
quanto aos gestos e à iluminação (Willie escurecendo e clareando conforme o
carro passa pelos postes enquanto a câmera teima em encontrar o foco certo é um
belo exemplo disso), sem muitos truques para controlar ou barrar a luz natural.
Nesse cenário, nem a estética aparentemente precária (pelo menos em
equipamentos) atrapalha, e até o barulho da cidade soa bem aos ouvidos. Sem
falar no som que assombra o filme e aparece vez ou outra, I Put A Spell On You de Screamin’ Jay Hawkins, canção casa
perfeitamente com a atmosfera estranha e bizarramente divertida do filme (ainda sorrio só de lembrar da tia húngara... puta que pariu).
só: <3
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