Sofia
Coppola parece até se divertir com as loucuras da “Gangue de Hollywood”,
observando tudo de uma posição moralmente superior. Seu olhar também carrega
aquela ironia ácida e sutil de sempre, usando a montagem para fazer de cada
corte em diálogo uma punchline, como
se os próprios jovens atestassem o seu papel de ridículo. Isso fica claro quando
ela realça a excentricidade, a vaidade e a futilidade dos personagens. Raramente
essa posição moral permite algum nível de empatia, geralmente com Marc, que tem
seus pensamentos e momentos de solidão expostos algumas vezes.
O
filme embarca sem pudor nas invasões da gangue enquanto os jovens se deliciam
com o brilho das grifes e jóias. Mesmo assim, Sofia parece sempre dar um sinal
de alerta a cada uma das invasões, por menor que seja, como se já soubesse onde
tudo aquilo acabaria. O exemplo mais claro desse tipo de mau presságio é quando
Marc e Becca invadem a casa de Audrina Patridge e, em vez de entrar na casa, a
câmera se limita a observar de longe e se aproximar lentamente usando o zoom, justamente naquela que seria a
primeira casa a revelar os assaltos através das câmeras de vigilância.
O
uso de vídeos dessas câmeras, além de vídeos de celebridades (em resolução
baixa como no Youtube), vídeos de canais de TV especializados em celebridades e
imagens de webcam ou do Facebook fazem do filme um retrato pontual desse mundo
(que vai além de Hollywood) em que todos parecem vigiados e expostos a todo o
tempo e tudo parece ser feito para ser ostentado ou visto. Coppola deixa claro
o papel da cultura das celebridades e da ostentação na formação desse tipo de
delinquência juvenil, não só através da imprensa como através da música, principalmente
o rap de ostentação, presença frequente na trilha sonora - um desses raps fala,
até didaticamente, de ‘super rich kids
with nothing but fake friends’. Além disso, a música externa o estado de
espírito dos personagens, como na cena acelerada (em ritmo e em música) do uso
de cocaína, ou na sequência com câmera e música lenta na boate, que lembra um
transe.
Sofia
não abandonou o tédio como sentimento principal de seus filmes, mas parece
dirigir mais claramente seu olhar crítico aos excessos dos ricos e famosos
desde Somewhere (2010). A diferença é
que a gangue de Bling Ring aparentemente não passa por momentos solitários e
reflexivos, preferindo se proteger uns com as presenças dos outros, como se não
se deixassem ficar entediados. Ao contrário dos personagens deslocados e
isolados de outros filmes de Sofia, estes querem se juntar ao crème de la crème de Hollywood (e se
espelhar nele) a qualquer custo, e assim subir os degraus da aristocracia
hollywoodiana.
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