Antes
de mais nada, Derek Cianfrance merece aplausos por não usar os dois atores
bonitinhos e da moda para mais um desfile de caras e bocas e emoções
pré-programadas, dentro de um roteiro com final feliz que force todos aqueles
conceitos velhos de romance. Enfim...
Fica
claro desde o princípio que diretor e atores colocaram muito de suas próprias
emoções e experiências na criação deste filme, e é a percepção dessa entrega
que realmente toca o espectador, mais do que roteiro ou narrativa, já que uma
parte considerável do que se vê na tela é fruto de improviso. Desfecho à parte,
o filme parece mostrar um relacionamento fadado ao fracasso desde o começo, com
o casal dando sinais de frieza e distância, desgastados pelo tempo mas unidos
pela filha. Já sabendo dessas pistas desde o início, o espectador passa a
lamentar pelo triste rumo que o relacionamento tomou à medida em que se encanta
pela forma como o casal se apaixona aos poucos, graças a uma alternância
bem-sucedida entre passado e presente. Essa alternância entre fases com
sentimentos aparentemente opostos leva a uma ascensão dramática conflitante,
mas talvez por isso ela seja tão emocionante e interessante, mostrando o
potencial ambíguo e perigoso que existe em cada relacionamento. Mas essa
polarização de sentimentos às vezes joga contra a própria narrativa, já que
todo o desenrolar dramático precisa ser bem construído ou ter boas bases para
que se chegue ao final em sintonia com o feeling
do filme (não que este seja um filme de estrutura muito rígida ou megalomaníaca
como Magnólia de Paul Thomas
Anderson). A exposição das ideias dos personagens principais sobre o amor, já
antes deles se conhecerem, por exemplo, reflete tristemente nos eventos futuros
mas não deixa de soar um pouco repetitiva ou desnecessária depois de um tempo. No
geral, o segmento do passado parece ter uma amplitude maior de sentimentos e
fases, sendo mais “completo em si mesmo”, por assim dizer, enquanto o segmento
do presente é desprovido de momentos de ternura e acaba revelando aos poucos o
tamanho da crise do casal. Mas faltam mais detalhes ou cenas que deem mais
razões para o desgaste do relacionamento além da cena do motel, já que há
muitas pequenas feridas que vão se acumulando num caso desses e que poderiam
ser exploradas. Não vou ser radical em dizer que este é um filme de dois
terços, mas vê-se que a morte da cadela e o encontro com Bobby Ontario são só o
estopim de um casamento que já tinha seus desgastes.
E
finalmente aparece um diretor que filme cenas de sexo com honestidade, e use
elas pra tentar mostrar alguma coisa que acrescente mais aos personagens que
simplesmente “agora eles estão transando”. Na primeira, entre Bobby e Cindy,
Bobby a penetra por trás, sem fazer contato visual, e acaba “esquecendo” de
tirar o pau antes de gozar, mostrando sua total falta de consideração com Cindy
e que seu gostar não ia muito além de possuir uma mulher atraente. Na segunda,
entre Cindy e Dean, ele nem espere que qualquer um dos dois tire a roupa e
começa a fazer sexo oral nela, como se garantir o prazer de Cindy fosse a prioridade
principal (ou única) naquele momento. Na terceira, ela está nua no chuveiro, em
situação vulnerável, e a primeira coisa que ele faz é novamente partir para o
sexo oral, o que ela rejeita. Depois, ela propõe que ele a penetre como se ela
estivesse emocionalmente ausente, mostrando a mesma falta de consideração de
Bobby Ontario (nesta cena o sexo é mostrado para refletir a relação de forma
mais óbvia que nas outras, mas ela acaba funcionando bem por não ser usada como
alusão explícita e pela própria carga emocional da situação e das
interpretações).
As
cenas do passado, rodadas em filme Super 16 (as presentes são filmadas
digitalmente, aparentemente), muitas vezes tem sua ação registrada com câmera
na mão (e balançando) e iluminações ou composições mais “naturais”, o que passa
uma ideia de espontaneidade e jovialidade, mas também de instabilidade. Essa
câmera na mão que segue os personagens também acaba valorizando as
interpretações e os improvisos em alguns momentos, principalmente quando as
tomadas se prolongam por alguns minutos. Nas cenas do presente, o visual é mais
fechado e rígido, com cores mais fortes.
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