26 de outubro de 2013

O Lobo Atrás da Porta (Fernando Coimbra, 2013)

As aparências podem enganar. Quem vê a carinha bonita de Leandra Leal no começo do filme (ou melhor dizendo, nas cenas do começo da linha do tempo do filme) e entra no filme com praticamente nenhuma informação prévia (como eu) nunca imaginaria que, até o final, ela faria um trajeto pessoal até o inferno. É impressionante observar a atriz revelar e desenvolver as máscaras e demônios de sua personagem ao longo de O Lobo Atrás da Porta (Fernando Coimbra, 2012), e mais impressionante ainda porque ela é tratada pelo diretor sem julgamentos moralistas, com respeito, como uma pessoa como as outras, capaz de cometer erros e tomar caminhos errados na vida, o que torna as ações de Rosa mais reais (e por isso impactantes) e menos resultantes de [...]
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2 de setembro de 2013

Estranhos No Paraíso (Jim Jarmusch, 1984)

Um filme torto, sujo, cinzento e estranho, mas que nem por isso deixa de ser belo de um jeito sincero e espontâneo, atento para a beleza das pequenas coisas da vida. Sem esforço, o filme é uma declaração de auto-afirmação a uma vertente do cinema independente que abraça o sujo, o torto, o deslocado, o entediante, enfim, um lado da humanidade negligenciado pela sociedade ou pela vertente mainstream das artes mais populares (assim como o húngaro Béla Tarr). A cada pequeno episódio anunciado pela tela preta, um momento precioso que estabelece os personagens no mundo (nem sempre com ações propriamente ditas) com uma naturalidade e fragilidade contagiantes, o que se estende tanto aos diálogos quanto aos gestos e à iluminação (Willie escurecendo [...]
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Namorados Para Sempre (Derek Cianfrance, 2010)

Antes de mais nada, Derek Cianfrance merece aplausos por não usar os dois atores bonitinhos e da moda para mais um desfile de caras e bocas e emoções pré-programadas, dentro de um roteiro com final feliz que force todos aqueles conceitos velhos de romance. Enfim... Fica claro desde o princípio que diretor e atores colocaram muito de suas próprias emoções e experiências na criação deste filme, e é a percepção dessa entrega que realmente toca o espectador, mais do que roteiro ou narrativa, já que uma parte considerável do que se vê na tela é fruto de improviso. Desfecho à parte, o filme parece mostrar um relacionamento fadado ao fracasso desde o começo, com o casal dando sinais de frieza e distância, desgastados pelo tempo mas unidos pela [...]
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O Dinheiro (Robert Bresson, 1983)

Por que ainda consigo me surpreender com a frieza absoluta de Bresson? Por que ainda acho que, de algum jeito, Yvon não vai matar a família indefesa e principalmente a velhinha inocente? Será que não entendi ainda que Bresson é o único que está disposto a ir até o fim para mostrar sua reprovação à hipocrisia, a ganância e a falta de ética? Sim, o foco é o dinheiro (mais precisamente a nota falsa que inicia a tragédia toda), mas a visão de Bresson em seu último filme demonstra uma falta de esperança tão grande que acaba refletindo uma podridão da sociedade moderna que vai além da ganância pelo dinheiro e mostra uma espécie de disfunção ou mal-estar social que paira sobre os personagens sem nunca ter muita definição. Todos parecem moral [...]
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O Abismo Prateado (Karim Ainouz, 2013)

No começo do filme, o marido de Violeta é mostrado nadando no raso, sob controle, mesmo mostrando um pouco de tensão e mergulhando pra evitar as ondas. Quando ele deixa Violeta, é como se ela fosse pega de surpresa por uma onda e fosse puxada pra baixo, pro “abismo prateado” de areia e profundeza. Violeta fica atordoada com a violência e o susto do rolar das águas, e quando ela finalmente consegue emergir, a maré já a levou para outro lugar da praia. O filme de Karim Ainouz se concentra num único dia, num ciclo de maré, um ciclo de onde Violeta sai renovada, “refeita, pode crer. Se no começo ela parecia segura de si e de seu amor pelo marido, pelo filho e pela vida que leva com eles, o marido esconde em sua tensão e inquietação um desprezo [...]
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1 de setembro de 2013

Frances Ha (Noah Baumbach, 2013)

É engraçado o fato de Frances destacar de um livro justamente um trecho sobre sinceridade numa obra de arte no início do filme, quando a sinceridade parece ser justamente uma das qualidades de Frances Ha, e mais engraçado ainda o fato da citação ser cortada no meio, como se aplicar esse sentimento a uma obra já não vago e impreciso o suficiente. Frances Ha é simples e despretensioso, e não esconde isso de ninguém. Em vez de mirar em grandes verdades ou lições, o filme se limita a acompanhar as idas e vindas de Frances na fase em que ela precisa decidir que rumo dar à sua vida adulta. Frances tem problemas pra encontrar um apartamento, um emprego, um parceiro, uma maneira de lidar com a separação da melhor amiga, enfim. Outros diretores poderiam [...]
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La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)

Marcello está inquieto. Por fora, ele é um jornalista charmoso, galanteador e bem-sucedido (até certo ponto). Por dentro, ele é atormentado por uma busca por transcendência, inspiração, poesia e amor recíproco. Ou seja, algo que vá além de seu papel de colunista (e parasita) dos ricos e famosos da Roma do fim dos anos 1950. Marcello procura nos mais variados lugares: no afeto de seu pai, na beleza de Afrodite de Sylvia, na palavra de sabedoria e tranquilidade de Steiner, num entendimento com Maddalena, uma aparição de uma santa, o que seja. Mas tudo acaba escapando de suas mãos, virando tragédia (como com Steiner e a criança morta após o suposto milagre da santa) ou banalidade (Jesus passeando de helicóptero e parando pra visitar as madames). [...]
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Amor Pleno (Terrence Malick, 2012)

Silêncio de Deus, incomunicabilidade, pecado e culpa, incapacidade de se relacionar ou amar completamente os outros, contato entre homem e natureza... todos esses e outros temas tratados no filme já foram abordadores exaustivamente por diretores como Bergman, Antonioni e Tarkovksy, até, cada um a seu próprio modo. Enquanto os outros são incisivos, apesar de misteriosos até certo ponto, Malick parece vago, solto, ainda que ele não deixe de ter consciência do que faz ou das suas ideias. Seu método pode ser descrito assim: Malick pega o espectador pelo braço, leva ele para uma de suas pradarias, coloca um véu sobre o seu rosto e o solta, enquanto sussurra algumas palavras em seu ouvido e pede para observar a luz e a paisagem (ou seja, o [...]
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The Bling Ring (Sofia Coppola, 2013)

Sofia Coppola parece até se divertir com as loucuras da “Gangue de Hollywood”, observando tudo de uma posição moralmente superior. Seu olhar também carrega aquela ironia ácida e sutil de sempre, usando a montagem para fazer de cada corte em diálogo uma punchline, como se os próprios jovens atestassem o seu papel de ridículo. Isso fica claro quando ela realça a excentricidade, a vaidade e a futilidade dos personagens. Raramente essa posição moral permite algum nível de empatia, geralmente com Marc, que tem seus pensamentos e momentos de solidão expostos algumas vezes. O filme embarca sem pudor nas invasões da gangue enquanto os jovens se deliciam com o brilho das grifes e jóias. Mesmo assim, Sofia parece sempre dar um sinal de alerta [...]
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