24 de novembro de 2014

Interstellar (Christopher Nolan, 2014)

Se Christopher Nolan pode fazer referência à parábola de Lázaro para ilustrar sua história, permita-me então dizer que o diretor mais parece encarnar o personagem Ícaro em seu novo filme. Ok, ele abusa menos dos clímaces superdilatados de meia hora com a ação dividida em diversas localidades do que em outros filmes, mas ele nunca tinha feito um filme tão longo, com tantas estrelas, tantos efeitos especiais, numa escala tão grande ou com tantos detalhezinhos e problemas para o protagonista. Para não sair do campo das mitologias, a jornada do piloto/fazendeiro Coop pode ser comparada também à de Ulisses na Odisseia, que, assim como todos os outros protagonistas dos últimos filmes de Nolan, enfrentam mil tormentos para reestabelecer o contato [...]
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20 de novembro de 2014

Boyhood (Richard Linklater, 2014)

“Querido diário, hoje o céu tava bem ensolarado e cheio de nuvens bonitas, “Yellow” do Coldplay tava tocando na rádio, e eu aprendi como nascem as vespas”. Assim poderia ser Boyhood, se seu personagem principal, o menino Mason, pudesse expressar seus sentimentos através de narrações em off. Ou se ele escrevesse dessa maneira tosca que se forma quando um adulto tenta – pessimamente - escrever como criança. Mesmo sem nenhuma narração em off e nem sequer uma menção à palavra “diário”, Boyhood às vezes dá a impressão de que estamos lendo o diário de Mason dos 5 aos 17 anos. Ou vendo um álbum de família com suas fotos. Ou, mais precisamente, vendo pedaços de seu amadurecimento através dos olhos de um observador que se mantém sempre próximo e [...]
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10 de novembro de 2014

Paris, Texas (Wim Wenders, 1984) e o blues

Em sua época, Paris, Texas (1984) foi o filme que Wim Wenders sempre quis fazer. E não só por unir os principais temas presentes no cinema do diretor até aquele momento: errância, solidão, viagens por estradas sem fim e laços afetivos entre pessoas separadas de suas famílias, entre outros. Antes dele, o diretor alemão já tinha filmados outros dois longas nos Estados Unidos que tinham como seu tema principal (ou um dos temas principais) a própria América, Hammett (1982) e O Estado Das Coisas (1982), mas só ficou plenamente satisfeito com a empreitada em Paris, Texas. Isto porque, no filme, Wenders conseguiu, mais do que nunca, realizar – e transpor para a tela – uma viagem ao coração dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que escrevia uma [...]
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5 de novembro de 2014

Obra (Gregório Graziosi, 2014)

Obra (Gregório Grazioli, 2014) é um filme com (quase que unicamente) por planos lindos (ou pelo menos que querem ser lindos), ok, mas ao seu fim eu admito que minha dificuldade foi encontrar nele algum uso futuro além de imagens/stills bonitas para hipsters cinéfilos colocarem em seus Tumblrs, loucos para enfeitar seus blogs com a beleza das paisagens, enquadramentos e jogos de luz e sombra em preto e branco do filme – personagens à parte. A impressão que se tem às vezes é a de se estar ouvindo uma música ambiente (das boas), ou vendo um daqueles quadros sofisticados de uma só cor que imitam o expressionismo abstrato, e rapidamente vão parando de atrair a atenção dos olhos. Talvez numa tentativa de se manter equilibrado, o filme acaba [...]
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4 de novembro de 2014

Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade (Daniel Aragão, 2014)

Antes de mais nada, cheguei à conclusão de que é quase impossível obter uma experiência prazerosa dos filmes de Daniel Aragão sem o desprendimento ou disposição suficientes para aceitar sua visão de mundo bastante particular, onde sensos de realismo são esquecidos ou ignorados a seu bel prazer, os personagens às vezes conversam de um jeito que faz parecer que eles são obrigados a falar de seus sentimentos e motivações como se fala num discurso, de forma tão aberta (ou honesta?) que parece falsa, tudo é exagerado em algum nível, e se dá mais importância ao exercício de estilo e à estética que ao conteúdo. E aceitar tudo isso não é fácil. De certa forma, o filme se aproveita ou inspira na estrutura e em vários dos elementos – e até algumas [...]
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25 de setembro de 2014

Dead Man (Jim Jarmusch, 1995)

Justo quando eu achava que já tinha colocado Jim Jarmusch numa fôrma e sacado seu estilo, ele aparece com aquele que talvez seja seu filme mais excêntrico, e com certeza é o mais sombrio e político Se os seus quatro longas anteriores eram relativamente similares, podendo ser colocados como “comédias com tons sombrios”, o diretor inverte isto em Dead Man, um filme “sombrio com tons cômicos”. Nele, o ingênio contador William Blake (Johnny Depp), de Cleveland, pega um trem para o Velho Oeste americano até a cidade de Machine atrás de uma vaga de emprego. No entanto, após ter a vaga recusada e matar o filho do “dono da cidade” quase sem querer (e ver ele matar seu possível interesse amoroso), ele é obrigado a se tornar um fora-da-lei e [...]
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16 de setembro de 2014

Trem Mistério (Jim Jarmusch, 1989)

Ao longo da história do blues e da música folk (e mais tarde do R&B e do rock dos anos 50 e do blues rock, etc), o trem tem sido uma de suas figuras mais recorrentes. Não só como indicação de deslocamento mas também como sinal de escapatória e mudança, de jornada pessoal/espiritual, ou de nostalgia pela vida ou pelas pessoas que foram embora ou deixadas para trás. Neste filme, o também é figura recorrente e importante, como fica evidente no título, que referencia uma das canções mais famosas de Elvis Presley. Assim, o trem marca presença não só visualmente (seja levando os personagens, em segundo plano ou aparecendo sozinho), mas também através de seus sons característicos, pairando como uma presença quase fantasmagórica sobre a cidade [...]
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26 de agosto de 2014

Amantes Eternos (Jim Jarmusch, 2013)

Meu Deus, será que Jim Jarmusch resolveu finalmente fazer jus aos seus cabelos eternamente brancos e se tornou um velhinho ranzinza? Não que filme seja chato ou antiquado, longe disso. Aos 60 anos, o diretor se mantém absurdamente cool, hip, entre outros adjetivos semelhantes. É que, mais do que uma “estória de vampiros”, este é um filme profundamente nostálgico, saudoso. E que forma melhor de tratar de nostalgia do que através de vampiros, esses seres soturnos, melancólicos, que tratam o passado com reverência e saudosismo e o futuro com desdém e desesperança? Esta nostalgia, tão preciosa ao filme, é tratada de diversas formas. Em primeiro lugar, ela está na forma do casal de vampiros de se referir ao presente, sempre como uma época [...]
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22 de agosto de 2014

O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson, 2013)

A narrativa do filme pode até ser baseada numa estória escrita pelo autor lida por uma menina, que é baseada na estória que ele ouviu, que por sua vez é baseada no que Zero viveu, mas o contador de estórias principal aqui é o próprio Wes Anderson, que parece ter se superado nesta empreitada. A aventura de Zero e do Hotel Budapeste é grandiosa, quase épica, mas contada de uma maneira tão sutil e despretensiosa que desarma e encanta o espectador com facilidade. Mas não se pode confundir essa sutileza com carência, já que há no filme uma estética bastante rigorosa e particular evidente em vários aspectos (de fato, só sendo muito rigoroso para usar três formatos de tela diferentes para três linhas temporais diferentes), desde o ritmo e [...]
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