Algumas partes do filme podem até parecer
mal desenvolvidas ou dignas de um cineasta inexperiente, principalmente em
comparação com obras posteriores do diretor, mas nem por isso Alice deixa de ser um filme adorável. Seja observando seus personagens ou a própria paisagem, Wenders já mostrava que tem uma rara sensibilidade para evocar
sentimentos como solidão, nostalgia, melancolia e uma sensação de errância,
não-pertencimento e alienação - Enfim, o tipo de coisa que é essencial para um road movie, com personagens vagando,
tentando escapar de suas próprias responsabilidades, fardos e bagagens
emocionais, se perdendo para poder se encontrar e encontrar paz em experiências
e lembranças efêmeras. É o caso do jornalista do filme, o típico personagem
errante de Wenders. Incapaz de se prender a um lugar ou pessoa, ele acaba
estabelecendo uma relação de afeto com a pequena Alice, relação que é mostrada
de um jeito leve, divertido e despretensioso.
Como sempre, as imagens de Wenders são
frequentemente mais eloquentes que os próprios diálogos, e a narrativa é
pontuada com planos belíssimos, como o reflexo de Alice numa fotografia de
Polaroid, os arranha-céus de Nova York vistos de cabeça pra baixo e a simples
chegada de um carro a uma praia do litoral da Califórnia. A trilha sonora, bastante
usada mas geralmente em trechos curtos demais, até evoca a solidão e errância
do protagonista, mas não chega a ser marcante, em parte por falta de qualidade
do próprio compositor e em parte pelo seu uso esparso - sem falar que as músicas que tocam no rádio às vezes funcionam melhor que a trilha sonora. Técnica à parte, o que realmente
dá um charme especial para o filme é realmente a química entre os dois atores
principais, a busca dos personagens por um lugar em que eles se sintam
confortáveis para fincar raízes e sua maneira meio inocente e infantil de olhar
a vida, com a qual todos podem se identificar.
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