13 de janeiro de 2014

Nashville (Robert Altman, 1975)



            Em seu retrato irônico da “middle America”, Robert Altman pode até ser sutil, mas nem por isso coloca o pé no freio. Longe disso. Não há redenção, salvação ou alívio para nenhum dos mais de vinte personagens principais do filme, e a imagem que o conjunto deles passa, quase como em uma tapeçaria, é a de uma América disfuncional, veladamente racista, levemente paranoica, desprovida de maiores virtudes ou discernimento (político ou qualquer que seja), vivendo de aparências e prazeres efêmeros, e com devoção desmedida pelas estrelas de Hollywood. O humor de Altman não é tão ácido quanto o de outros americanos que analisaram sua própria sociedade, como Woody Allen e David Lynch, mas há sempre uma dose de sarcasmo presente em cada cena (várias delas absolutamente hilárias), num tom que pode desembocar no absurdo surreal ou até mesmo na melancolia e pena. Apesar do exagero de algumas situações, a direção de Altman permanece simples, inabalada, como se ele observasse tudo o que se passa calado, encostado num canto com um sorriso irônico no rosto.
            O diretor demonstra respeito e dá bastante ênfase à música country de Nashville e às suas canções, não só porque o filme retrata justamente essa cena musical, mas por entender que a música é importante para compreender essa sociedade. O country de Nashville é inofensivo, cristão, desprovido de senso crítico ou sociopolítico (e com orgulho disso), nacionalista, sentimental e excessivamente apegado às tradições. E isso diz muito sobre essas pessoas, assim como o fato do candidato à presidente do filme ser um reformista torto e sem ideias realistas ou úteis, que nunca mostra a cara e que discursaria numa imitação cafona do Parthenon.
Nessa cacofonia de dezenas de vozes, há espaço e tempo para todos, rendendo um rico mosaico da América naquele momento (embora muitas das características ridicularizadas no filme ainda perdurem naquela sociedade até hoje), com suas simpatias e neuroses. É indiscutível a grandeza de Altman quando se considera que ele consegue não só apresentar de uma maneira divertida e sensível, mas ainda assim crítica (talvez até cínica), enquanto dá equilíbrio e direção firme para as atuações dos (aproximadamente) 24 personagens principais do filme. 

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