Em seu retrato irônico da “middle
America”, Robert Altman pode até ser sutil, mas nem por isso coloca o pé no
freio. Longe disso. Não há redenção, salvação ou alívio para nenhum dos mais de
vinte personagens principais do filme, e a imagem que o conjunto deles passa,
quase como em uma tapeçaria, é a de uma América disfuncional, veladamente
racista, levemente paranoica, desprovida de maiores virtudes ou discernimento
(político ou qualquer que seja), vivendo de aparências e prazeres efêmeros, e
com devoção desmedida pelas estrelas de Hollywood. O humor de Altman não é tão
ácido quanto o de outros americanos que analisaram sua própria sociedade, como
Woody Allen e David Lynch, mas há sempre uma dose de sarcasmo presente em cada
cena (várias delas absolutamente hilárias), num tom que pode desembocar no absurdo surreal ou até mesmo na melancolia
e pena. Apesar do exagero de algumas situações, a direção de Altman permanece
simples, inabalada, como se ele observasse tudo o que se passa calado, encostado
num canto com um sorriso irônico no rosto.
O diretor demonstra respeito e dá
bastante ênfase à música country de Nashville e às suas canções, não só porque
o filme retrata justamente essa cena musical, mas por entender que a música é
importante para compreender essa sociedade. O country de Nashville é
inofensivo, cristão, desprovido de senso crítico ou sociopolítico (e com
orgulho disso), nacionalista, sentimental e excessivamente apegado às
tradições. E isso diz muito sobre essas pessoas, assim como o fato do candidato
à presidente do filme ser um reformista torto e sem ideias realistas ou úteis,
que nunca mostra a cara e que discursaria numa imitação cafona do Parthenon.
Nessa cacofonia de dezenas de vozes, há espaço e tempo para todos, rendendo um rico mosaico
da América naquele momento (embora muitas das características ridicularizadas
no filme ainda perdurem naquela sociedade até hoje), com suas simpatias e
neuroses. É indiscutível a grandeza de Altman quando se considera que ele consegue não só apresentar de uma maneira divertida e sensível, mas ainda assim crítica (talvez até cínica), enquanto dá equilíbrio e direção firme para as atuações dos (aproximadamente) 24 personagens principais do filme.
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