29 de janeiro de 2014

Alice Nas Cidades (Wim Wenders, 1974)

Algumas partes do filme podem até parecer mal desenvolvidas ou dignas de um cineasta inexperiente, principalmente em comparação com obras posteriores do diretor, mas nem por isso Alice deixa de ser um filme adorável. Seja observando seus personagens ou a própria paisagem, Wenders já mostrava que tem uma rara sensibilidade para evocar sentimentos como solidão, nostalgia, melancolia e uma sensação de errância, não-pertencimento e alienação -  Enfim, o tipo de coisa que é essencial para um road movie, com personagens vagando, tentando escapar de suas próprias responsabilidades, fardos e bagagens emocionais, se perdendo para poder se encontrar e encontrar paz em experiências e lembranças efêmeras. É o caso do jornalista do filme, o [...]
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28 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street (Martin Scorsese, 2013)

Em O Lobo de Wall Street (Martin Scorsese, 2013), um homem (Jordan Belfort) conta a estória de como deixou de ser um joão-ninguém para se tornar um homem rico e poderoso através de lavagem de dinheiro e fraudes, para depois ser pego e perder tudo, numa trama recheada de drogas, intrigas e crime. Dito assim, fica evidente que o filme vem do mesmo molde (e do mesmo diretor) de Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995). Por um lado, pode-se dizer que Scorsese recorreu a uma velha “fórmula” (mesmo que o filme traga novos elementos à sua filmografia), o que é uma pena. Por outro, O Lobo de Wall Street vai além de seus antecessores em certos pontos, como na quantidade de sexo, drogas e palavrões (o filme bateu o recorde de uso da palavra “fuck” e [...]
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14 de janeiro de 2014

O Espelho (Andrei Tarkovsky, 1975)

Alexei está doente, prestes a morrer, incapaz de lidar com toda a culpa, melancolia e depressão dentro de si. Sua alma está presa a seu corpo, assim como ele está preso à sua própria vivência, sua memória, seus laços, suas raízes. A jornada de Alexei, personagem-principal e narrador do filme é realizada interiormente, dentro de seus próprios pensamentos e seu próprio espírito. Ele percebe que não conseguirá morrer ou viver em paz se não entrar harmonia com suas próprias raízes e demônios, visto que é impossível simplesmente apagá-los da mente. A estrutura febril e aparentemente vaga do filme dá cor e som às visões, memórias e sonhos de seu narrador, materializando seu fluxo de consciência de uma forma poética e subjetiva, única na história [...]
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O Segundo Rosto (John Frankenheimer, 1966)

Há uma sensação permanente de estranhamento, de perigo eminente e de distorção da realidade permeando todos os planos de O Segundo Rosto, já desde a ótima abertura, elaborada por Saul Bass (o mesmo de Um Corpo Que Cai e tantos outros). Nada é o que parece ser neste filme, e até mesmo a câmera parece estar sob o efeito de algum tranquilizante ou entorpecente, chegando a filmar por vezes os personagens de maneira torta, desfocada ou intrusiva (como se fosse operada por um bêbado suado que tem que chegar perto demais pra falar com as pessoas), dando uma sensação regular de desconforto. O modo como Frankenheimer usa a linguagem cinematográfica para passar a sensação de Arthur/Tony (ótima atuação de Rock Hudson, aliás) de estar vendo através [...]
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Minha Noite Com Ela (Eric Rohmer, 1969)

            Rohmer sempre tem algumas surpresas na manga, e elas são essenciais para manter seus filmes interessantes, mas isso nunca o impede de ser honesto e claro com o público e seus próprios personagens. Aliás, poucos diretores dão tanta margem para seus personagens exporem suas ideias, trejeitos e segredos quanto Rohmer. Em Minha Noite Com Ela e em qualquer outro filme do diretor, a discussões das ideias e motivações (particularmente neste caso, ideias sobre amor, moral e religião) é essencial para os personagens de Rohmer. O que impressiona é que essas discussões demonstram espontaneidade e informalidade, sempre com fluidez e atenção ao ritmo e às pausas, mas nunca soam rasas ou previsíveis. Os personagens [...]
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13 de janeiro de 2014

Nashville (Robert Altman, 1975)

            Em seu retrato irônico da “middle America”, Robert Altman pode até ser sutil, mas nem por isso coloca o pé no freio. Longe disso. Não há redenção, salvação ou alívio para nenhum dos mais de vinte personagens principais do filme, e a imagem que o conjunto deles passa, quase como em uma tapeçaria, é a de uma América disfuncional, veladamente racista, levemente paranoica, desprovida de maiores virtudes ou discernimento (político ou qualquer que seja), vivendo de aparências e prazeres efêmeros, e com devoção desmedida pelas estrelas de Hollywood. O humor de Altman não é tão ácido quanto o de outros americanos que analisaram sua própria sociedade, como Woody Allen e David Lynch, mas há sempre [...]
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Azul É A Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013)

    Adèle pode até preferir esconder seu diário e seus sentimentos, mas o modo como o diretor, Abdellatif Kechiche, conduz o filme faz parecer que estamos lendo o diário da personagem principal. Testemunhamos uma quantidade esmagadora de eventos da juventude de Adèle, e alguns daqueles que não são mostrados são justamente os que ela queria encobrir, como o envolvimento com o professor-colega e os pequenos rolos que ela teve (será?) após se separar de Emma. Além de proximidade, isso demonstra uma espécie rara de comprometimento e sinceridade do diretor para com a personagem principal, sem sentimentalismos ou manipulações baratas.       Narrativa à parte, essa proximidade fica óbvia pela maneira como Kechiche filma [...]
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