Aos 65 anos de idade, Jep Gambardella é como uma mistura
entre dois personagens de Fellini eternizados por Marcello Mastroianni, Guido e
Marcello, porém envelhecido e igualmente confuso e desolado. De forma
semelhante, La Grande Bellezza se
inicia numa mistura entre o que vem após o final de La Dolce Vita (1960) e o começo de 8½ (1963), com um protagonista irremediavelmente imerso na
decadente alta sociedade de Roma e incapaz de encontrar inspiração para sua
nova obra.
Sorrentino não só toma como base os filmes de Fellini, mas
parece se contentar em emulá-los, sem ir muito além deles em tema e estética, apropriando-os
sob uma visão que dá poucos sinais de pessoalidade. Já vi adaptações para o cinema de livros que pegaram menos das obras originais do que Sorrentino pegou de La Dolce Vita e 8½. Não que ele fosse capaz de
superar as obras-primas de Fellini. Faltam a Sorrentino a sensibilidade para
tratar dos sentimentos do protagonista de forma sincera e não “acrobática” ou
torta, a fluidez na transição entre realidade, sonho e memória, e a sutileza no
trabalho com o visual do filme e sua direção de fotografia (que até tem alguns
belos momentos, mas, no geral, é bem exagerada).
Claro, não há como negar que Jep seja um personagem
carismático, e seu carisma carrega o filme nas costas em algumas partes, mas
seus momentos de reflexão, tão preciosos, parecem coisas engessadas, quase
forçadas, e não com tomadas súbitas de consciência ou pensamentos autênticos.
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