11 de março de 2014

Alabama Monroe (Felix Van Groeningen, 2012)


De certa forma, Alabama Monroe pode ser visto como um exemplo raro de filme (ou pelo menos é difícil eu sair do cinema tão emocionado quanto quando vi o filme). Carregado de emoções fortes, mas demonstradas de forma convincente e impactante, sem parecer enfeitadas ou falsas. Com uma trilha sonora frequente e marcante, mas que não é usada para manipulações fáceis. Com personagens que parecem sempre ser tratados com respeito, empatia e até carinho, talvez.

Os (muitos) dramas do casal Elise e Didier são apresentados numa narrativa que vai e volta na ordem cronológica, mas se divide entre três momentos principais: início do romance, Maybelle (filha dos dois) contraindo câncer e a crise no relacionamento (concentrada na segunda metade do filme). Essa alternância entre tempos narrativos é arriscada, mas a montagem dá conta do recado com boas transições, como quando uma cena em que Maybelle fala de como sonha em se tornar uma cowboy no futuro é seguida de uma imagem dela já careca por causa da quimioterapia. Em vez de conduzir as emoções de forma direta em direção às notas mais tristes ou alegres como normalmente se faz, a montagem intercala momentos tristes e felizes, o que tira a importância do impacto imediato deles e faz esses momentos e suas cargas emocionais ressonarem entre si, ressignificando uns aos outros como uma grande cadeia de lembranças ligadas umas às outras. Desse modo, se valorizam as emoções da trajetória da história do casal e sua trajetória de vida como um todo.

Na segunda parte do filme essa alternância diminuiu um pouco, afinal de contas a terceira fase temporal só surge após a “conclusão” da segunda fase, na metade do filme, o que prejudica o efeito hipnótico da montagem. Mesmo assim, a terceira fase tem um punhado bem significativo de emoções por si só, e aliada às lembranças recorrentes do passado (que geralmente não são atribuídas diretamente a um dos personagens), faz a segunda metade se segurar bem sem perder tanto assim. O problema é que os conflitos do casal gerados após a perda da filha ficam um pouco restritos e limitados demais ao questionamento da vida após a morte, desembocando num embate entre ciência e fé quando poderiam ter mais variedade.

Se bem que o ponto-chave da música mais importante do filme, “Will The Circle Be Unbroken”, é justamente o questionamento sobre o que nos espera após a morte. Talvez o problema de ter músicas e performances musicais que funcionam tão bem é que às vezes elas são mais eloquentes que o próprio diálogo (principalmente no caso da música “Where The Soul Never Dies”). De fato, as músicas são essenciais ao filme, servindo não só como plano de fundo para a relação do casal (afinal eles tocam e cantam numa banda de bluegrass) como expressando as emoções que pontuam o filme a sua própria maneira. A começar pela trilha sonora original, sempre no estilo bluegrass/country que marca o filme, que dá o tom ou “mood" (geralmente melancólico) de certas cenas sutilmente, deixando para os atores a maior parte da carga dramática. Em paralelo estão as apresentações de Elise e Didier em sua banda de bluegrass, não só porque as músicas (e suas letras) ajudam a demarcar as fases do relacionamento do casal e revelar seus sentimentos, mas também porque as próprias interpretações dessas canções são maravilhosas e um dos pontos altos do filme junto com a ótima atuação da dupla de protagonistas, interpretados por Veerle Baetens e Jonah Heldenbergh. Mas o mais importante é que a música em si (instrumental ou cantada) é colocada como uma coisa realmente importante na vida desses personagens e nas suas histórias, de forma que o ato de tocá-la vai além de algo trivial ou que o filme apenas menciona e se torna algo que serve como uma maneira importante de expressão, trazendo alegria e paz ao espírito e ilustrando a busca de cada um por algum tipo de salvação pessoal enquanto lidam com a vida e a morte.

Até por causa dessa importância que a música ganha, as duas despedidas ao som de bluegrass são provavelmente as cenas mais emocionantes do filme. Havendo ou não um lar esperando no Céu, a música pode servir de acalanto para todos, tanto para os que ficam para os que partem, se você escolher partilhar da crença de Elise. O final até sugere brevemente a existência de vida após a morte (de maneira inesperada, até), mas de um jeito que mais parece ser um exemplo de uma chance para mostrar o que é verdadeiro para a personagem do que uma afirmação ou perspectiva definitiva.

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