24 de fevereiro de 2014

Nebraska (Alexander Payne, 2013)


Woody Grant, personagem principal de Nebraska, é colocado como um errante já no primeiro plano do filme, o que deixa a pergunta “por que ele está vagando?” desde o princípio. Claro, superficialmente ele acredita estar indo buscar um prêmio de um milhão de dólares no Nebraska, mas ele foge das desilusões de sua vida tanto quanto busca seu pote de ouro no fim do arco-íris. Sua insistência em vagar a pé e a razão aparentemente ridícula para sua viagem o tornam uma visão imediata quase tão confusa quando a do errante Travis (interpretado por Harry Dean Stanton) de Paris, Texas (Wim Wenders, 1984).

Pouco a pouco, o filme vai revelando as camadas por trás do homem rabugento e lacônico, sugerindo os porquês de sua errância através da relação problemática com mulher e filhos, da distância de sua família, da juventude difícil e da sensação de que foi levado pela correnteza na vida, sem ter podido escolher direito nem seu casamento. Para este velho ligeiramente gagá, parece não restado nada além de uma cerveja gelada de vez em quando. Woody até dá uma explicação para sua obsessão em vagar e coletar o tal prêmio em Nebraska, mas, diante de todas as situações que o filme apresenta, ela acaba não sendo inteiramente satisfatória ou conclusiva. Não que essa explicação seja o porquê do filme, ou sua parte mais importante.

A busca do filho de Woody (David) por conhecer melhor e agradar o pai que provavelmente está em seus últimos anos de vida, e assim compensar anos e anos de uma relação distante e complicada, se configura como a essência do filme, e o que move a narrativa. Servindo como plano de fundo (mas muitas vezes ganhando destaque) está um retrato satírico da vida no Meio-Oeste americano, com seus cidadãos com mentalidade de cidade pequena, sem maiores ambições ou futuro e sem muita coisa na cabeça. A interação de Woody e seu filho com esse ambiente mistura estranheza, empatia (bem restrita) e hostilidade, gerando momentos de humor seco e sarcástico. Apesar de apresentar algumas situações bem absurdas, Alexander Payne nunca chega a exagerar ou ridicularizar seus personagens ou mostra-los com desdém.

O diretor também não apela para manipulações, como fica evidente na boa trilha sonora, que apesar de usada com frequência, não procura intensificar demais a carga dramática das cenas, se reservando a prover um “mood” e dar certa cor local ao filme com um toque de country, blues e folk. Realmente, o filme não precisa disso para ser bonito. Ele já cativa com sua simplicidade, sua economia na forma de contar a estória, e a atuação maravilhosa de Bruce Dern (o elenco como um todo está bem dirigido). Também é digna de nota a fotografia de um preto e branco cinzento, grisalho como os cabelos de Woody, de baixo contraste e sem brilho, reforçando a ideia de um ambiente envelhecido, sem glamour ou charme. 

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