24 de fevereiro de 2014

Ela (Spike Jonze, 2013)

Duas cadeiras à minha direita no cinema, uma menina de uns 20 anos se sentou confortavelmente, e depois de vestir uma meia três-quartos e um casaco, guardou o celular no suporte que supostamente devia servir para copos. Quando seu celular vibrava (e acendia!) ou quando o filme dava uma desacelerada, ela parava pra checar e trocar mensagens, e às vezes nem assim, parecendo ter tido a impressão de que ele tinha vibrado sem isso ter acontecido. Num mundo em que isso é visto como uma ação quase normal e corriqueira, a sociedade futurista onde Ela se passa não parece tão distante assim, o que pode tornar a visão de um mundo emocionalmente e afetivamente aleijado menos surpreendente, porém mais assustadora. No mundo em questão, os sentimentos [...]
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Nebraska (Alexander Payne, 2013)

Woody Grant, personagem principal de Nebraska, é colocado como um errante já no primeiro plano do filme, o que deixa a pergunta “por que ele está vagando?” desde o princípio. Claro, superficialmente ele acredita estar indo buscar um prêmio de um milhão de dólares no Nebraska, mas ele foge das desilusões de sua vida tanto quanto busca seu pote de ouro no fim do arco-íris. Sua insistência em vagar a pé e a razão aparentemente ridícula para sua viagem o tornam uma visão imediata quase tão confusa quando a do errante Travis (interpretado por Harry Dean Stanton) de Paris, Texas (Wim Wenders, 1984). Pouco a pouco, o filme vai revelando as camadas por trás do homem rabugento e lacônico, sugerindo os porquês de sua errância através da relação [...]
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11 de fevereiro de 2014

Trapaça (David O. Russell, 2013)

Pra um filme que se propõe a mostrar as empreitadas (nem sempre dentro dos limites da legalidade e sanidade) de seus protagonistas através do ponto de vista deles, Trapaça (David O. Russell, 2013) parece surpreendentemente limpo, inocente. A visão sobre os fatos não parece idealizada ou pessoal, e sim inofensiva e quase pueril. A estética do filme também não dá sinais contundentes de ser guiadas pelos personagens, e até as narrações em off não ajudam muito, raramente conseguindo soar interessantes ou perceptivas. Ao invés disso, o que prevalece é o olhar exagerado e melodramático do diretor David Russell, e seu gosto por situações absurdas e direção de arte exagerada (ok, estamos nos anos 70, deu pra entender). Mais uma vez, ele [...]
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